terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

É bem aqui




Vida


A vida é mistério que se dá
A todo instante, em qualquer lugar

Assim como ondas na beira-mar
Carece aqui pedir, impedir ou rejeitar

Mistério que pare aquilo que está
Ainda oculto ao tolo e cego olhar
Que já julga saber, assim, como será
Aquilo que ainda estar por se dar

Se a vida é convite à criar
Apenas um sim, sorrido, há de bastar

                                                          MaThas


Trans


A Flor e o Ser
Quem se atreverá descrever?
Deixemos isso pra lá...
Além de nós
Só há o desabrochar

MaThas

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Deixa


Pelo menos por um instante
Deixa...
Deixa as coisas serem, sem acréscimo
Apenas deixa...

Deixa o celular tocar e a mensagem chegar
Deixa o face postar, o crédito acabar
Deixa a cidade acordar, barulhar, crescer
Deixa os carros acelerarem, buzinarem, se engarrafarem
Deixa o caos ser o que é, caótico...

Deixa as pessoas olharem e pensarem, deixe-as falarem
Deixa que procurem, acreditem e comprem o que quiserem
Deixa a grama crescer, a nuvem passar e o sol brilhar
Deixa a lua pratear, ou não, quando a noite chegar
Deixa o pássaro cantar e deixa-o ir, voar
Deixa o cachorro latir
Deixa a criança chorar... e deixa-a brincar 
Deixa-te ser amado, rejeitado, comparado, tocado
Deixa seu time perder e a validade vencer
Deixa a fumaça subir e a chuva cair
Deixa a notícia sair, deixa-a passar
Deixa seu filme queimar e sua cara se revelar
Deixa a fome chamar, deixa as unhas crescerem
Deixa a idade chegar, o tempo apressar e o corpo pesar

Deixa a música tocar, e acabar
Deixa a moça desafinar
Deixa a vida correr, deixa o vento levar
Deixa a próxima inspiração inspirar e deixa ir todo o ar
Deixa seu filho crescer, cair e levantar, e deixa-o andar
Deixa esquecido o bilhete premiado e perdido
Deixa o coração sentir, a emoção brotar e aflorar
Deixa a cabeça pensar, planejar, programar, sonhar
Deixa irem os que já se forem, que descansem
Deixa Deus em paz...

Deixa tudo ser exatamente como já é
Deixa tudo seguir seu próprio curso
Deixa a fisionomia sem retoques
Deixa as pessoas chegarem e deixa-as que partam
Deixa o relógio bater e o programa começar

Deixa o mundo ser o que é, deixa-o girar
Deixa, por um breve instante, de controlar
Deixa tudo ser como é...
Sem sua mão, sem sua intenção
Deixa...
E se acaso for insuportável deixar
Deixa que o insuportável seja de fato... insuportável
Deixa...
Pelo menos por este instante.

MaThas



Equívoco




sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

O mistério e a flor


Com o botão nos dedos
Vem o forte querer
De a flor logo expor
Ou de seu desabrochar reter

Abandone-se ao ver
Que em vossa pretensão
Não há e nem cabe
Tamanho poder

A força que conduz
Esse e todo botão
É pleno mistério
Não está em vossa mão

Flores se abrem
Em festa silenciosa
Quer se queira ou não

Aquilo que já são
É aquilo que serão
Exalar perfume e cor
Pulsaria nelas outra intenção?

Quem haveria de pedir
À uma delas 
Que não fosse flor?
Quem seria capaz 
De o mesmo fazer 
Com seu amor? 

Bela é a leoa rugindo 
Bela é a flor se abrindo 
Bela é a Vida em mistério
Que sem se explicar
Vai nos conduzindo

MaThas

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Quando sei...




O lance

Por vezes
é tolice fazer
tudo aquilo que está 
ao nosso alcance

Benditas vezes
em que basta apenas 
dar-se mais uma chance

Sem esforço
a vida se vira 
e desata nós 
no piscar de um lance


  MaThas

Tua vida


Que a tua vida não seja apenas uma vida boa
Que ela possa ser temperada e costurada com significados
Que o vento não sopre sempre a favor
Que possamos aprender a de fato velejar
Que nem tudo dê certo e de acordo com nossos planos
Que haja espaço para o inesperado, o improviso e a criação
Que nenhum dos castelo de nossas verdades
Seja poupado das invasões dos bárbaros questionamentos
Que nenhum recuo seja permanente
E que nem o avançar e superar sejam eternas imposições
Que a vontade de acertar não nos afaste de nossos equívocos
Que haja abertura para aprendermos com tudo, quando possível
Que não façamos do tropeço e da falha nossos fantasmas
Que o sorriso nunca se congele no medo do ridículo
Que nem sempre haja um guarda chuva à mão
E que a chuva seja generosa, e nós, entregues
Que nenhum sucesso nos faça esquecer quem somos
Que nenhum fracasso nos faça esquecer quem somos
Que quem somos possa ser sempre revisto
Com nossos sucessos e fracassos
Que a vida não se resuma na soma do passar dos anos
Que valha a pena, que seja sentida e que tenha sentido
O teu sentido

                                                                     MaThas

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Louvor à chuva mansa

Em terra seca
Chuva forte pouco adianta
Regar mesmo
Só amorosa chuva mansa

Afago demorado que encharca o chão

Acorda a semente
Desabrocha o coração 

Se terra com pedra parece

De longa e ardente sede padece

Que peito não se enternece
Se regado daquilo que tanto carece?

Deságua chuva mansa
Benção do céu que tudo alcança
Irriga nossos afetos e plantas

Deságua chuva mansa
Embala-nos em seu murmurar
Todo teu ser nesse pranto 
Doce e sem nenhum lamentar

Louvo-te chuva mansa
Que cais devagar e vais fundo
E sem nenhum alarde
Acarinha e renova esse mundo

                                      MaThas

                                

Siga leve...





domingo, 5 de fevereiro de 2017

Bolhas de sabão


Bolhas de sabão
que a brisa leva 
em qualquer direção
e que ao ínfimo toque
nada mais são  

Bolhas de sabão 
no derradeiro ploft 
me abrem a visão 
na impermanência 
somos todos irmãos


                   Mathas



Além dos meus botões


E eu aqui
cá com meus botões...
        suspirando pelo amor
        desejando felicidade
        sonhando com a liberdade

E eu aqui
cá com meus botões...
       embutido na cela justa
       da minha própria pele
       protegido e sem verve

E eu aqui
cá com meus botões...
       imaginando me libertar e
       florescer sem precisar
       nenhum botão desabotoar

E eu aqui
cá a me despir...
        desmantelando minha prisão   
        desnudando o fato que os meus botões
        são justamente os meus grilhões

E eu aqui
cá comigo... 
         agora fora da casa
         a pele ao vento 
         aberto à novas confecções
         para além de meus botões...


                                                       MaThas




sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Pensando melhor





Na brisa


A brisa me sussurou palavras...
Na brisa soltei poemas...

Eles se foram livres

Cantando aquilo que não consigo dizer
Emancipados se vão
Fluindo por ruas, cantos e céu
Levando sem nenhum pesar
Um pouco do meu sonhar

Solidão de não mais sabê-los...

Foram acolhidos em algum coração?
Serão par da melodia em alguma canção?
Que cabelos e orelhas brincaram de roçar?
Serão mansos sussuros para novos poemas?

Respostas que a brisa não traz...



                                                 MaThas


Um início

Não me sabia poeta
Por temer o que viria
Desfolhei o medo
Floriu a poesia

                     MaThas